Novo Nissan Kicks Vende Menos que a Versão Anterior

Quando uma montadora lança uma nova geração de um veículo, espera-se que ele supere ou ao menos iguale o sucesso do modelo anterior. No caso do Nissan Kicks, esse não é o cenário imediato. Apesar de o novo Kicks 2026 trazer motor turbo, central multimídia mais moderna, tecnologia avançada e visual renovado, o antigo modelo — “Kicks Play” — continua a liderar as vendas. Isso revela muito sobre o comportamento do consumidor brasileiro, sobre os preços, prioridades e percepções de valor.

Os números recentes: quanto cada versão vende

Dados da consultoria K.Lume, trazidos por publicações especializadas como Autoesporte e Guia do Carro, mostram que:

• Em setembro de 2025, o Nissan Kicks vendeu 6.319 unidades somando todas as suas versões.

• Deste total, a nova geração (produzida desde abril em Resende, RJ) representou 2.156 unidades, ou cerca de 34%.

• O Kicks Play, versão da geração de 2017 renomeada, ficou com 4.147 emplacamentos, ou 66% do total.

• A versão do Play mais vendida foi a Active com 1.830 unidades, seguida pela Sense com 1.624. Já o Kicks Advance da nova geração ficou em terceiro lugar, com 939 unidades.

Esses números são significativos: demonstram que, no curto prazo, a nova geração ainda não conquistou o mercado na proporção esperada.

Pandemia de lançamento, produção e preço: o contexto

Para entender esse cenário, é preciso considerar alguns fatores que influenciam diretamente a aceitação do novo Kicks:

• Produção: a nova geração começou a ser fabricada em abril de 2025, e há um processo de ramp-up para elevar sua oferta. A capacidade produtiva, oferta de versões e estoques variam enquanto a fábrica ajusta linhas, logísticas, peças, etc.

• Preço: o modelo novo começa com preços bem acima do Kicks Play. Versões mais equipadas e tecnologia adicionada encarecem o novo modelo. Por outro lado, o Play, que já está consolidado, com manutenção mais conhecida e peças mais fáceis, oferece alternativas de versões de entrada com preços que agradam mais quem busca um SUV compacto acessível.

• Custo de uso percebido: manutenção, seguro, consumo, revisões, valor de revenda — tudo pesa no momento da decisão. Muitos compradores veem o Play como opção mais segura em termos de custos ao longo do tempo.

Vantagens que mantêm o Kicks Play competitivo

O Kicks Play detém algumas vantagens claras:

• Preço de entrada mais acessível: versões mais simples do Play são bem mais baratas que equivalentes do novo modelo.

• Familiaridade do consumidor: quem já conhece o Play, confia no motor, no câmbio, conhece custos de manutenção. Esse histórico dá segurança.

• Disponibilidade imediata: como o modelo antigo está em produção contínua, pode haver menor espera por carro, menor impacto de ajuste de produção.

• Custo-benefício forte em versões intermediárias: itens de conforto suficientes, funcionalidade, espaço, etc., que satisfazem uma parcela grande do público que não exige o “mais tecnológico”.

O que o novo Kicks traz de diferente — e por que ele ainda não domina

Embora o novo Kicks tenha tudo para se destacar, ele enfrenta desafios:

• Novas versões com motor 1.0 turbo, central multimídia mais sofisticada, tecnologia de assistência ao motorista e design renovado.

• Equipmentos premium como teto solar, acabamento superior, mais segurança etc.

• Contudo, o preço elevado de entrada para a nova geração torna difícil conquistar quem está mais sensível a custo.

• A percepção de valor tem que justificar o salto de preço: se o novo modelo não oferecer ganhos relevantes na usabilidade diária, muitos preferirão economizar optando pelo Play.

Estratégias da Nissan: convívio, promoção e futuro

Para enfrentar esse cenário, a Nissan está adotando algumas estratégias:

• Manter os dois modelos à venda: o Kicks Play segue sendo produzido e vendido junto com o novo Kicks. Essa coexistência permite segmentar públicos diferentes — quem busca mais por preço e quem quer mais tecnologia. 

• Campanhas promocionais: descontos, taxas especiais, condições de financiamento para tornar o novo modelo mais atraente.

• Planejamento para novos modelos: há planos para um SUV de entrada substituto ou complemento, chamado “Kait”, que deve usar a plataforma do Kicks Play, visando disputar com modelos como Fiat Pulse, Renault Kardian e VW Tera. Isso mostra que a Nissan compreende a necessidade de atender diferentes faixas. 

Impactos no mercado e lições para montadoras

Essa situação do Kicks traz algumas lições gerais para quem observa o mercado automobilístico:

• Segmento de SUVs compactos está muito sensível a preço-benefício: tecnologia e novidade ajudam, mas não garantem liderança se o custo marginal for muito alto.

• Coexistência de gerações pode ser positiva: permite manter volumes, amortizar custos de projeto, oferecer opções de entrada, e calibrar posicionamento de marca.

• Comunicação clara é essencial: consumidores precisam entender o porquê pagar a mais pelo novo modelo — se for só estética e poucos equipamentos extras, talvez não compense para muitos.

• Produção, logística e disponibilidade são parte da equação: mesmo com tecnologia, se houver filas ou falta de versões populares, deixa espaço para modelos mais estabelecidos dominarem.

O desempenho das vendas de setembro de 2025 mostra que o Kicks Play, versão antiga do Nissan Kicks, ainda exerce forte influência no mercado — correspondendo a cerca de dois terços (66%) dos emplacamentos do modelo, enquanto a nova geração representa apenas 34%. Isso evidencia que muitos consumidores ainda priorizam preço, acessibilidade e confiabilidade que já conhecem, ao invés de pagar mais por novidades e upgrades tecnológicos.

Mesmo com seu apelo moderno, motor turbo, novos equipamentos de série e um visual atualizado, o novo Kicks 2026 enfrenta desafios importantes para se consolidar. Seu preço elevado, a percepção de que muitos atributos extras não justificam o investimento adicional, e a necessidade de ramp-up (ajuste e disponibilidade de oferta) são barreiras que precisam ser superadas para que ele conquiste uma fatia maior do mercado.

A estratégia da Nissan de manter duas gerações com o mesmo nome — Play para a versão mais acessível e a nova geração para públicos dispostos a investir mais — parece estar funcionando como uma abordagem híbrida (no sentido de segmentação). Se a marca conseguir alinhar preço justo, disponibilidade, comunicação clara dos diferenciais e manutenção de custos de uso, há espaço para que o novo Kicks cresça. Mas, por enquanto, o Play mantém o trono — dominando as vendas do SUV compacto da Nissan no Brasil.